segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Quem cuida de quem cuida?



Cuidar de alguém é uma responsabilidade imensa, ainda mais se for um bebê. Bebês são seres totalmente dependentes, se não houver alguém que possa cuidar dele, ele não sobrevive. Um bebê é cuidado por 24 horas, por meses, anos, crianças precisam ser cuidadas.

Raramente um bebê não será cuidado por sua mãe assim que nascer, caberá à mãe alimentar, trocar, dar banho, verificar condições vitais, etc. Algumas dessas tarefas podem ser divididas com alguém, seja o pai, parente, cuidadora, mas a maior parte do "trabalho" fica realmente com a mãe.

Uma mulher dá seu próprio lugar, para que o lugar de uma outra pessoa possa ser construído. Ela não segue mais os seus próprios horários, nem suas próprias vontades. Ela cuida integralmente daquele pequeno Ser. Mas e essa mãe? Quem olha para ela? Quem cuida dela? Que pergunta o que ELA precisa? Quem oferece uma massagem , um chá, um colo?

Durante a gestação é muito importante organizar quem poderá auxiliar com a casa, comida, cuidados com o bebê ou outras tarefas pertinentes ao nascimento do bebê, mas e a organização de quem cuidará dessa mãe? Ela precisará comer, sim! Ela precisará de auxilio com a casa, sim! Mas quem cuidará DELA? Quem enxugará suas lágrimas quando ela não estiver mais suportando a responsabilidade de cuidar de um bebê? Quem irá levar um delicioso brigadeiro ao invés de uma sopa? Quem irá colocar a mão em uma dor que ela estiver passando? Ou apenas escutar as angústias e frustrações sem julgar?


Você já imaginou quem é essa pessoa que poderá fazer isso por você? Não existe ninguém? Nenhum parente perto, nenhuma amiga disponível? Recorra a um grupo de pós-parto, surgem amizades maravilhosas nesses grupos.
Conheça uma doula pós-parto, terapeuta, psicóloga, reserve fundos para esses momentos se for o caso, se não precisar de nada disso, invista em uma massagem, vai te ajudar.

Nenhuma dessas alternativas é viável? Bata na porta da vizinha, quem sabe lá existe alguém que tem tudo de melhor para oferecer, mas também não encontrou para quem dar? Não vamos nos prender dentro de casa aguardando a salvação, o puerpério pode ser um excelente momento de olhar novas perspectivas, criar novas amizades, ele não precisa ser solitário.

Fale, não guarde para si, expresse-se, vai ser importante para manter um bom nível de sanidade para cuidar do bebê. Permita-se encontrar alguém que pode cuidar de você também.


segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Criação e opinião

Criar filhe não é fácil, são tantas formas possíveis de se realizar esta tarefa. Podemos utilizar de leituras, dicas de outras famílias, textos, psicólogos, intuição, etc para nos auxiliar e encontramos um jeito que seja satisfatório.
Mas não importa como for, a sua forma nunca vai estar certa se não for igual a de quem está por perto. Dá para captar os julgamentos no ar. Dá para captar as comparações no ar. Dá para sentir quando acham que você não sabe nada e sutilmente tentam te ensinar o jeito certo, porque aquela forma que você escolheu não faz a criança comer toda a comida do prato, aquela forma não faz ela sair logo da fralda, aquela forma não faz com que ela se cure da noite para o dia, aquela forma não faz com que ela durma a noite inteira no quarto dela, aquela forma na faz com que ela pare de pedir colo, aquela forma não faz com que ela pare de chorar instantâneamente.
E se a criar precisar ficar aos cuidados dos outros, sempre irão enaltecer como a criança faz coisas lindas e perfeitas enquanto você não está.
Mas calma, respire fundo! Confie em si, volte para casa e continue a seguir o coração e não, duvide do seu potencial de cuidar de seu filhe.
Para você, você está certa e eles errados! Para eles, você está errada e eles certos, é uma conta que nunca vai fechar, mas que no fim, por alguma magia matemática, dá certo!

domingo, 9 de outubro de 2016

Maternidade fora da caixa

Ser mãe é um desafio muito grande, desde a escolha da via de nascimento até a forma de cuidar e educar o bebê, criança, adolescente... Principalmente se você optar por formas "não convencionais".

Optar pelo parto normal já faz com que ganhemos olhares tortos e uma grande desconfiança das pessoas, pode-se até mesmo criar uma torcida para que você termine em uma cesárea.

O bebê nasce e então você opta por não receber visitas nas primeiras semanas ou carregar no sling, então você é egoísta.

Tá dando peito? Está sendo difícil? Dê mamadeira, é melhor que sofrer e o bebê vai dormir a noite toda. Amamenta depois dos 6 meses, 1, 2, 3 anos? Pra quê? O leite vira água, criança fica mal acostumada, não come, que horror esse peito de fora, é sem vergonhice!

Opte por não dar doces, porcarias ou refrigerante. Caos instaurado! A criança vira uma coitadinha que vai morrer de lombriga. Ah claro, você se torna a mãe chata (aliás, se tornou faz tempo).

Desfralde natural? Com 2 anos dicas e perguntas começam a eclodir de todos os lados, dependendo da escola, vem a pressão deles. Ah, use fraldas de pano e se torne a louca que prefere lavar fralda a fazer qualquer outra coisa e gastar toda água do mundo.

Escola! Com 1 ano ele já precisa socializar, tem que conviver com outras crianças, se optar por respeitar o tempo da criança em que a alfabetização é recomendada iniciar por volta de 7 anos, o seu filho vai ser atrasado e " burro".

Cama compartilhada? Pronto, você não transa! E a criança vai dormir pra sempre junto até 40 anos de idade.

No terrible two, quando você optar por ter paciência e muito diálogo, ninguém vai entender porque você não dá umas palmadas ou um calmante.

Acho que nem preciso falar sobre o observar antes de medicar, ou optar por homeopatia e técnicas alternativas.

Olhar para os outros nos distância de seguir à diante com nossas crenças pessoais em relação ao maternar.
É preciso encontrar rede de apoio que pense como você quando a pressão for muito grande, porque certamente em algum momento vai vir a dúvida sobre sua capacidade de maternar.

O mundo está muito plástico e encaixotado, viver fora dessa caixa requer muita informação e empoderamento.

Mas tenha certeza que vai valer à pena, você sairá mais fortalecida em sua própria vida pessoal, não vai aceitar conceitos prontos facilmente, vai se tornar mais questionadora e exigente.

Maternar conscientemente seguindo seus instintos e crenças pode ser um grande desafio, mas que vai valer à pena e será muito recompensador.

Quando pensar em desistir, faça um mergulho no seu interior e tome uma decisão conscientemente, nem sempre vamos conseguir levar todas as idealizações em frente, mas se algo não puder ser como o planejado, que venha de um lugar verdadeiro e não para ceder à pressão da sociedade. Aja de acordo com seus limites, se respeitando e respeitando o bebê/criança. Faz parte do empoderamento materno escolhas conscientes, seja para sair da caixa ou ficar dentro dela.

Que seja leve!

Por Egle Prema Shunyatta
Doula e Terapeuta Holística.


segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Desmame e o corpo!

Iniciar o processo de amamentação é algo natural e espontâneo, esperado! O bebê nasce e então ele mama.
Ao longo de meses ou anos a mãe cede seu corpo para servir de alimento para o bebê, vira um restaurante ambulante. Muitas sentem imenso prazer e se entregam ao processo.

Mas o desmame um dia chega, seja liderado pela criança ou pela mãe, talvez até os dois juntos.

Quando o bebê nasce o corpo entende o que tem que fazer, produzir leite.

E  quando a criança desmama? O que será que o corpo entende? Como ele responde ao parar de produzir leite? Como a mente responde a este momento?

Desmamar é um marco na vida de uma mãe, pode ser suave, desejado. Pode ser abrupto e difícil.

O corpo irá responder de alguma forma os sentimentos em relação a este processo, talvez ele irá alertar para algum aspecto oculto.

Em 10 dias realizei dois atendimentos em mães com torcicolo, seria algo corriqueiro salvo pelo fato de que ambas haviam desmamado há alguns dias.

O que seria este sinal? Um convite para se olhar e entender essas mensagens ocultas?
Um convite para esse reencontro com o próprio corpo?

Que sentimentos o desmame gera? Culpa, ansiedade, alívio?

Olhar para os sintomas no corpo nos leva a conhecer o nosso interior e a lidar melhor com a nossa mente e a  enfrentar as mudanças de forma mais branda e com aceitação.

Hoje convido-as a olhar para este momento como desmame não só da criança, mas também seu, um momento de se reconhecer, se reencontrar e se permitir sentir a retomada do corpo para si e fazer o possível para que essa transição seja leve e consciente.

Por Egle Prema Shunyatta.
Doula e Terapeuta Corporal Holística.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Ser mãe: existe a parte boa!

Hoje fui acordada de forma tão linda, com um som que eu poderia comparar com o toque de harpas angelicais dos Reinos mais distantes onde fadas e borboletas voam tilintantes e livres, flores exalam aromas doces e refrescantes e o vento sopra vida.

Esse som Celestial foi um verdadeiro " Eu te amo mamãe ", dito pelos labios do meu filho de três anos.

Quando meu filho tinha um pouco menos de um ano, estávamos no consultório da pediatra e lá estava uma mãe com sua filha de um ano e dois meses, espontaneamente a menina acariciou o rosto da mãe e eu até exclamei: " Nossa! Essa fase chega mesmo!".

Então os meses foram se passando e eu aguardava ansiosamente pelo dia que ganharia um carinho espontâneo, a fala veio e aguardei o momento em que ouviria um " eu te amo" espontâneo. E nada!

Então ele começou a devolver os "eu te amo" que eu falava para ele e foi lindo, sempre muito gostoso, já fazia meu coração vibrar.

Mas somente após os três anos de idade ele começou a demonstrar carinho e "eu te amo" espontaneamente. Há três dias ouvi o primeiro " mamãe você está bonita".

Nesses momentos todas as adversidades somem, todo sono, todo cansaço ficam pequenos. Toda dúvida e culpa desaparecem e o tempo pára!

É amor genuíno, que não é ensinado ou forçado, é aquele tal amor incondicional, amor que não pára de aumentar.

Mães puérperas, esse dia chega, para umas antes, para outras depois, mas ele chega e então é possível sentir e perceber o quanto realmente vale à pena toda doação, entrega, abnegação para cuidar de um Ser que integrará a nossa sociedade e que esse ser tem amor dentro si e é demonstrado de formas sutis e espontâneas.

Tenham paciência e consciência que o esforço vai ser devolvido e multiplicado pelo infinito.

Por Egle Prema Shunyatta, mãe, Doula e Terapeuta Holística

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

O parto é fácil, difícil é o que vem depois.



É muito comum quem costuma ir em grupos de apoio ao parto ouvir essa frase vez ou outra: "O parto é fácil, difícil é o que vem depois".
Mas por que ouvimos tanto essa frase sendo dita por outras mães? Como que é possível que o tão temido e desconhecido parto possa ser "fácil" quando comparado à maternidade? Como é possível que seja tão difícil cuidar de um bebê?

A experiência de parto é única e inigualável para mulher, assim como o maternar, momento em que a mulher irá reconhecer que sua vida realmente mudou.
O resultado ao final do parto é o encontro com um bebezinho lindo, com um cheirinho especial e olhar profundo, o resultado do início da maternidade é um bebê que chora, faz coco, mama, não dorme. O resultado do início da maternidade é o reconhecimento de que a rotina mudou, a vida mudou e não tem mais volta.

Mas por que é tão difícil? Será que é mesmo tudo isso que falam? Eu não vou dar conta?

Sim, vai dar conta, por mais difícil que seja, por maior que seja quantidade de lágrimas, damos conta, talvez seja necessário reconhecer em algum momento que sozinha seja difícil e outras pessoas precisarão entrar na jogada e talvez esse reconhecimento possa abalar nossas estruturas. Como diz o provérbio africano "É preciso uma aldeia inteira para cuidar de uma criança".
Nossa sociedade atualmente tem quantidade de pessoas reduzidas em casa, formamos nossa família mais solitariamente, nossas casas são menores e as portas fechadas. Na época de nossas avós, sempre tinha uma tia, uma prima, irmã morando junto, as portas eram abertas e todos os vizinhos se conheciam, se ajudavam. O perfil familiar mudou drasticamente nas últimas décadas, menos filhos, somente o núcleo principal vivendo em uma casa/apartamento (pai, mãe, filhos). Quando acaba a farinha, corremos ao mercado ao invés do vizinho de porta.
A opção por uma forma de criar filhos de maneira "alternativa" também dificulta um pouco as coisas. Hoje temos uma criação plástica, com alimentação pobre, falta de incentivo à amamentação, industrialização e adultilização precoces de nossas crianças, querer criar bebês e crianças fora deste contexto se torna um verdadeiro "remar contra a maré", o que faz com que essa criação possa ser algo mais solitário para a família que opta por esses caminhos. Se eu escolher amamentar em livre demanda, ter ajuda de um parente que me incentiva a comprar uma mamadeira e diz que o leite é fraco, receber ajuda deste parente pode se tornar um verdadeiro caos, levando a mãe a optar por cuidar do bebê sozinha.
Uma mãe que acabou de parir, precisa de acolhimento, apoio e compreensão. Essa mãe não vai mais chegar em casa após um dia exaustivo e entrar em um banho gostoso e se acomodar no sofá com um chá quentinho, essa mãe vai sim chegar em casa e se deparar com um bebê chorando, fralda para trocar, pilhas de louça para cuidar e um livro não terminado na cabeceira da cama, aquele que ela parou na metade um dia antes do bebê nascer.
O bebê demanda muito, ele PRECISA da mãe para viver, sem o leite, o carinho e a percepção de como ele está, este bebê não continua com sua vida e essa dedicação faz com que a mulher se torne uma outra pessoa além do que ela conhecia antes, ela se torna a peça chave para que a vida continue, e talvez essa responsabilidade possa ter um peso muito grande para algumas mulheres, que passam a vivenciar essa experiência  tão intensamente que esquecem de se olhar no espelho.

Mas calma, é possível continuar se olhando, é importante não esquecer que dentro dessa fábrica ambulante de leite existe uma mulher que carrega toda uma história de vida, uma mulher que foi capaz de trazer uma criança ao mundo e será capaz de cuidar desse Ser.

O parto são algumas horas, a maternidade é para vida toda. O parto dói, a maternidade também irá doer muitas vezes, mas assim como o parto, tem amor, tem superação, tem VIDA!

É difícil, mas vale cada segundo, a criança vai crescer e um dia espontaneamente vai falar: "Eu te amo", vai tocar sua face e vai te olhar. Neste olhar toda a dificuldade irá deixar de existir por um momento, o momento do reconhecimento, do amor verdadeiramente incondicional e vai valer à pena, todas as lágrimas irão valer a pena. Você vai se ver neste olhar!

E muito provavelmente você vai desejar outro parto, outra criança!





Fonte Imagem:http://www.dailymail.co.uk/femail/article-3237618/I-raw-Mother-posts-devastating-image-sobbing-cradling-newborn-baby-shed-light-realities-postpartum-depression.html

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Relato de Parto - Lícia - nascimento do Teo

Compartilho com vocês o relato de parto de uma mulher maravilhosa, que sabia que seu filho Teo poderia vir ao mundo da.forma.mais natural possível e fez tudo o que estava a seu alcance para que fosse assim.
Agradeço a oportunidade de ter participado deste momento tão especial dessa linda família.
Lícia, Filip e Teo, minha profunda gratidão.


Gestação e nascimento do Teo

A descoberta

O começo de 2015 foi marcado pela notícia de três bebês na nossa família. E foi exatamente isso que meu marido disse quando recebemos o resultado positivo, em pleno mar do caribe, no cruzeiro em que trabalhávamos: "Ha! Mais um
bebê pra família!" - ele disse enquanto eu olhava incrédula pro rosto do médico que nos atendia no Centro Médico do navio. Um misto de emoções me percorreu, lágrimas caíram aos olhos, já que eu tinha ido até lá pra verificar uma possível infecção uterina, não tínhamos planejado a gravidez e estava com cólicas fortes (o que definitivamente não é um bom sinal quando se tem um diagnóstico de gravidez).
No dia seguinte tínhamos conexão em Galveston - Texas e fomos direto ao Pronto Socorro pra fazer exames mais detalhados e pelo pontinho esbranquiçado no ultrassom confirmamos a notícia: dali alguns meses seriamos papais! Então foi dada a largada para uma maratona de decisões e resoluções. Meu marido é Sérvio e decidimos vir para o Brasil para que eu ficasse mais próxima da minha família com o bebê enquanto ele trabalhasse e por acreditarmos que seria mais facil pra ele achar um novo trabalho por aqui, considerando a economia de ambos países. Então viemos e iniciamos os preparativos pra receber nosso pequeno.

No hospital em Galveston, com o segundo teste positivo.


Quartinho do Teo quase pronto.

A escolha do parto

Minha maior vontade era ter um parto residencial, mas na região onde moramos esse tipo de parto não é tão acessível. Conversando com uma amiga que teve bebê recentemente, fui apresentada ao "Parto Humanizado" e comecei a pesquisar sobre o assunto. Este tipo de parto é respeitoso com a gestante e o bebê independente da forma
de parto, prioriza e incentiva o parto natural (normal sem qualquer tipo de intervenção), a mulher é a protagonista do próprio parto, entre vários outros aspectos que não entrarei em detalhes aqui. Iniciei meu pre natal com uma médica humanizada, contratei uma doula e uma enfermeira obstetra pra me acompanharem. Não conseguiria ter o parto com a médica que fez meu pré natal devido ao alto valor que é cobrado, então junto com minha doula pensamos em alternativas para conseguir um parto mais próximo do natural humanizado possível. Ela me sugeriu passar o trabalho de parto em casa e prosseguir pro CAISM - maternidade da Unicamp - já em fase ativa (quando já tem 7cm ou mais de dilatação) e montar um plano de parto, que é aceito por eles. Dessa forma evitaríamos qualquer intervenção desnecessária.


 Ensaio que fizemos com 32 semanas de gestação

O trabalho de parto

Tudo preparado: malas da maternidade, petiscos, plano de parto de 8 páginas... e na madrugada do dia 12 para o dia 13 de outubro (exatamemte minha DPP - Data Prevista para o Parto), acordei com cólicas tipo menstruais bem fortes. Já tinha tido um alarme desse na semana anterior e não era nada, então fiz o que minha doula recomendou: chazinho e bolsa d'água bem quentinhos e banho demorado. Se ainda não fosse o trabalho de parto, a dor passaria. Mas aquele dia não passou e antes mesmo de amanhecer o meu tampão mucoso se soltou. Mandei um whats app pra minha doula e pra minha enfermeira dizendo: acho que é hoje! Dito e feito, por volta das 10 da manhã minhas contrações começaram, fracas e espaçadas, bem irregulares, as vezes após meia hora, as vezes após vinte minutos. Lembro que tive uma contração fortíssima às 12:40, foi quando liguei pra elas novamente e pedi: "vem que eu to em trabalho de parto!". Elas chegaram em casa por volta das 14:30 e tive meu primeiro exame de toque da gestação. Estava esperando estar com uns 3cm pelo menos considerando a dor que tinha sentido até então e quase tive um negócio quando recebi a notícia: 1cm. Naquela hora eu entendi que o dia ia ser longo!
Iniciamos os exercícios de relaxamento, com respiração e bola de pilates. Música e dança rolando. Minha doula me deu uma sessão psicológica sobre "ir ao encontro da dor" que eu confesso me pegou um pouco de surpresa. Durante toda a gestação eu tentei me preparar ao máximo pra esse momento, mas subestimei um pouco a dor em si. Enfrentar a dor foi algo que eu entendi por completo apenas naquele momento, quando ela estava ali consumindo minhas energias. E nesse ponto, eu ainda não tinha ideia do quão forte elas iam ficar conforme a evolução do trabalho de parto.
Mais cedo do que eu gostaria, as contrações ainda irregulares começaram vir a cada 8, 5, 3 minutos.  Algumas mais intensas, outras mais leves. Eu estava com a bolsa rota (furada) e o líquido amniótico vazava pouco a pouco. Minha doula acompanhando, fazendo chás, massagem e passando os exercícios pra embalar o parto. Meu marido não saiu do meu lado um minuto, aprendeu as técnicas de alívio de dor pra aplicar enquanto estivéssemos no hospital, pois ainda não sabíamos se a doula conseguiria entrar na sala de parto. Assim foi a tarde inteira, vi a noite cair e em torno de 19:30h senti uma contração com uma pontada forte, bem diferente do que eu havia sentido até então. Quando o líquido amniótico escorreu em uma quantidade bem maior, entendi que minha bolsa havia estourado. Pedi pra enfermeira fazer mais um exame de toque e eu ainda tinha apenas 4 pra 5cm de dilatação. Me lembro que a partir dali minhas contrações vieram menos frequentes e menos dolorosas. Eu estava cansada e relaxei muito, o que causou toda a lentidão. Acho que comecei desacreditar no meu parto e é nessa hora que aqueles anjos disfarçados de doula e enfermeira obstetra cochicham fundo no seu ouvido e te fazem acreditar que sim, você consegue, seu corpo foi feito pra isso. Elas me orientaram a entrar no chuveiro quente e abaixar de cócoras a cada contração. "Abraça a dor Lícia, é ela que vai trazer seu filho pro mundo!" - dizia a minha doula. Fomos eu e meu marido pro chuveiro, eu abaixando de cócoras a cada contração e ele me apertando as costas pra aliviar a dor. Não sei por quanto tempo ficamos lá, mas sei que funcionou (e como!). Logo comecei a sentir vontade de empurrar, bem parecida com a vontade de fazer cocô, então decidi ir pro hospital.
Início do trabalho de parto. Nessa hora a ficha caiu e eu chorei horrores!







 Exercício na bola de pilates


Apoio do marido e me alimentando durante 
o trabalho de parto.

No hospital

Resolvemos ir no carro com a minha doula e a enfermeira obstetra foi seguindo a gente com o carro dela. Chegamos no Pronto Atendimento do CAISM por volta das 23h e graças ao bom Deus estava vazio, então fui atendida de imediato. Quando checaram minha dilatação eu já tinha vindo de 9 pra 10cm. Fui levada às pressas pra sala de parto. Minhas lembranças a partir daí já são meio "bêbadas". Você fica meio drogada com toda a dor e os coquetéis de hormônios que o seu corpo fabrica durante todo o trabalho de parto.
Chegando na sala de parto toda a equipe se juntou pra ler meu Plano de Parto. Fiquei impressionada com o respeito deles, conversando comigo o tempo todo, esclarecendo as dúvidas que tinham sobre meu plano e quão abertos eles foram com cada pedido meu. Desejo que toda equipe obstétrica lide com um parto como lidaram com o meu.
Eles se retiraram da sala e me deixaram apenas com meu marido e eu tive que me "doular" sozinha pois não deixaram minha doula entrar com agente. A cada contração abaixava de cócoras e fazia força, já estava sentindo vontade de empurrar e a intensidade de cada contração era imensa! Uma das médicas entrou na sala e checou a dilatação novamente. Eu já estava com 10 cm e a cabeça do Teo estava no ponto 0 (a escala vai de -3 a 3, então ele já estava na "metade do caminho"). A equipe toda se juntou e me prepararam para o expulsivo: posição similar à cócoras na maca, panos pra todo lado, ferramentas na mesa... "Agora vai!", pensei. Mas minhas contrações simplesmente desaceleraram. Vinham agora de 5 em 5 minutos e menos intensas. Os bebês realmente têm o tempo deles de nascer e meu pequeno tão genioso desde a barriga resolveu que não ia ser naquele momento e ponto. Me ofereceram ocitocina, eu neguei a princípio, mas aceitei por fim devido a exaustão. Estava considerando tomar anestesia também, a dor era muito forte, mas tinha medo que os batimentos cardíacos do bebê caíssem ou que eu não tivesse força pra empurrar. Em  qualquer uma das situações eu iria terminar ou em cesária ou tendo que utilizar fórceps, fazer episiotomia... Nessa hora minha fé ficou bem abalada, achei que não ia conseguir, que ia arruinar meu parto até ali tão perfeito... foi quando os integrantes da equipe chamaram o médico chefe. Ele veio, checou minha dilatação e disse que tinha uma membrana atrapalhando a virada da cabeça do bebê e que ele poderia tentar uma manobra pra jogar a membrana por trás da cabeça dele. Eu lembro que só falei: manda ver doutor, vamos tirar essa criança daí! Rs. Ele fez a manobra e daí por diante o expulsivo embalou.


Aqui tinhamos recebido a notícia de que ele estava no ponto 0. Mandamos WhatsApp pra família avisando: Tá na metade do caminho!!

O nascimento

Eu já estava com ocitocina na veia então as contrações vinham com tudo. Não sei por quanto tempo eu tive que empurrar, mas senti meu filho escorregando pouco a pouco, a cabeça coroando, o famoso círculo de fogo (e que fogo, arde muito!!), a cada contração eu concentrava todas as minhas forças e empurrava como se não houvesse amanhã! Logo mais a cabeça saiu. Lembro do meu marido sorrindo e falando: tem um bebê de verdade ali! E na próxima contração senti parte a parte do corpinho dele saindo de uma vez de dentro de mim. O médico olhou pra ele: ele está bem, entrega ele pra ela. E lá estava meu Teo. Chorou um pouquinho e parou assim que deitou no meu peito. Nasceu de olho aberto e ficou me encarando, nunca vou esquecer essa troca de olhares que tivemos nos seus primeiros segundos de vida e tenho certeza que ficará também gravado no subconsciente dele pra sempre. Naquele momento nasceu um bebê, uma mãe, um pai e aquele amor maior do mundo que tantos pais falam mas que você entende somente quando passa por isso. Ele nasceu às 2:26h do dia 14/10/2015. Meu marido que cortou o cordão umbilical e somente após parar de pulsar. Foram aproximadamente 14 horas de trabalho de parto, incluindo um expulsivo prolongado de 2 horas. Tive uma laceração grau 2 e levei 4 pontos no períneo. O Teo nasceu com 3,330Kg, 50cm e com o melhor APGAR possível: 10 de 10. Mamou no meu peito um tempão na primeira hora de vida. Não fizeram nele nenhuma intervenção que eu não tivesse autorizado e meu marido acompanhou todo o atendimento dado a ele. Com todos os imprevistos, o final foi perfeito!


Família reunida logo após o nascimento. 



Quando eu ganhei aquele olhar... é muito amor!


Primeiro tetê, dado com a ajuda de uma das enfermeiras na primeira hora de vida.

Sentimentos e sugestões

Ser mãe é maravilhoso. Eu sou apaixonada pela minha cria, por mim parava o mundo pra viver só pra ele. Quanto ao parto, muita gente me pergunta se dói. A má notícia é que dói, e muito! Pra mim foi uma dor que nunca senti na vida. A boa notícia (boas notícias, na verdade): 1. Somos mais fortes do que pensamos. 2. Cada parto é diferente. O meu doeu muito, mas não significa que de todas as mulheres ou meu(s) futuro(s) parto(s) vão doer igual. 3. Você sempre pode ter qualquer intervenção ao seu dispor, inclusive anestesia. No meu caso sentir a dor até o final foi opcional. 4. Compensa E MUITO! Não tem experiência na vida que se compare ao parto. Cuidei do meu filho sem problemas desde o dia 1 e depois de uma semana eu já estava tão bem que poderia dançar ballet e abrir espacato se eu quisesse (exagero! Rs me senti muito bem, mas tem que dar o tempo da recuperação dos pontos pra fazer atividades de maior esforço, o que leva uns 30 a 40 dias).
Minha mensagem final é: empodere-se. Pesquise sobre as formas de parto, intervenções existentes (maioria desnecessárias), não seja apenas passiva aos médicos pois muitos ainda desencorajam as mulheres a terem parto normal pela comodidade da cesária. Se você é mulher, grávida ou pretende ter filhos um dia e quer ter cesária, ao menos pesquise sobre o parto natural e seus benefícios em comparação à cesária ou um parto normal cheio de intervenções. Se depois de todo o conhecimento você ainda optar por uma cesária, ok, pelo menos você estará fazendo consciente baseando-se em evidências científicas, não em mitos que o povo insiste em espalhar. O mais importante: informe-se sobre as intervenções realizadas no bebê em seus primeiros momentos de vida (o que ocorre não por extrema necessidade na maioria dos casos, mas sim por pura conveniência da equipe médica). Não estou generalizando, mas infelizmente o Brasil ainda tem um enorme índice de violência obstétrica e isso só vai mudar quando as mulheres abrirem os olhos e se informarem. Decidiu pelo parto normal natural? Contrate uma doula e opte por um ginecologista obstetra/hospital que aceite a doula na sala de parto. As doulas são especialistas em não te deixar desistir e ajudam a passar pela dor ou qualquer medo que possa surgir durante o parto. E por último:  acredite em você e no seu corpo. Toda mulher é capaz parir!
Parto é música, é poesia, é amor. Faça do seu um momento respeitoso e único, depois é só colher os frutos disso na sua vida e na vida do seu filho (acredite, faz diferença!).

Beijos a todos da família Milosavljevic!

Participantes da gestação e parto do Teo:
Ginecologista Obstetra Humanizada que acompanhou o pré natal: Dra Mariana B. Simões.
O nascimento aconteceu no CAISM – maternidade da Unicamp – com a equipe de plantão.
Doula: Egle Veríssimo Darin Benfatti (Facebook: Egle Prema Shunyatta).
Enfermeira Obstetra: Kétellyn Guimarães (Facebook: Kétellyn Guimarães).
Ensaio fotográfico gestante e newborn: Aline Pinheiro (Facebook: Aline Pinheiro Fotografias).